Crônicas: leituras e leitores

 

Victor Hugo Fernandes Cremasco
Laís Sartori Rodrigues
Samar Ferraz da Silva
Maria Aparecida Mansur
José Fernando Barska

Petruciany Simone Ribeiro
Bruno Pontes Oliveira Trípodi
Maria das Mercês Dantas Rodrigues

  

Resumo
Trazendo a crônica, um gênero que narra a vida como ela é, para a sala de aula, este projeto aproxima literatura e realidade. Oferece temáticas que são capazes de desenvolver o diálogo e o senso crítico, favorecendo um processo formativo amplo. A partir de leituras de textos de variadas épocas – que agregam o saber histórico – e do uso de mídias visuais, como vídeo e fotografia – que dinamizam o trabalho –, os alunos reconhecerão os traços constitutivos que regem o gênero e partirão, a seguir, para uma oficina prática de escrita e fotografia, através da qual poderão documentar seus próprios olhares perante a vida, a sociedade, a cidade, etc.

  

Palavras-chave
Crônica, história, sociedade, mídias visuais, escrita 

 

Introdução

É possível rever as estratégias que há para o ensino de literatura. O primeiro passo para isso é reconhecer que a leitura está presente na vida dos jovens. Eles a encontram em jogos, redes sociais, mídias de lazer – filmes e músicas –, etc. Logo, não há problema em ler; o que prejudica, sim, muitas vezes, a aprendizagem, é o que se lê e como se lê. Tendo isso em vista, e procurando suavizar a inserção desses jovens no universo da leitura escolar, formativa, propomos um projeto que lhes possa mostrar que seus mundos particulares estão presentes no texto literário e vice-versa, gerando um sentimento de cumplicidade. E foi dessa necessidade de aproximação que a crônica surgiu como engrenagem decisiva. Ela é “ligeira”, bastante subjetiva, trata de temas que cabem à sociedade pós-moderna e é construída sobre os alicerces de uma linguagem desprovida de nós insolúveis; em suma, é um gênero decididamente didático e passível de escolarização. Diz Antonio Candido:

“É importante insistir no papel da simplicidade, brevidade e graça próprias da crônica. Os professores tendem muitas vezes a incutir nos alunos uma ideia falsa de seriedade; uma noção duvidosa de que as coisas sérias são graves, pesadas, e que consequentemente a leveza é superficial. Na verdade, aprende-se muito quando se diverte, e aqueles traços constitutivos da crônica são um veículo privilegiado para mostrar de modo persuasivo muita coisa que, divertindo, atrai, inspira e faz amadurecer a nossa visão das coisas.” (1992, p. 19) 

No Brasil, ao final do século XIX, a crônica era uma seção jornalística, de rodapé, que tinha a função de informar o leitor sobre os acontecimentos daquele dia ou daquela semana. A modernização do gênero se deu por uma mudança de comportamento de alguns jornalistas, os quais permaneciam nas redações aguardando as notícias: no século XX, eles trocam a postura da espera pela da busca, transformando-se em uma espécie mais compromissada de flanêurs[1], vivendo pelas cidades atrás das grandes cenas e dos grandes fatos, dos olhares que valessem um texto. Pois é quando a notícia se liberta dos moldes tradicionais e experimenta o tom literário que a crônica começa a ganhar um amplo caráter documental. Em outras palavras, ela tem um pouco de fora e um pouco de dentro. Dela, é possível apreender um cenário, uma instância e, ainda, a postura daquele que vê, e que, porque vê, livremente associa sobre aquilo, pessoalizando o quadro comum e excitando um prazer preliminar cuja essência, segundo Freud, é a alma da literatura.

A crônica possibilita, também, um saber para a vida. Por tematizar, quase sempre, questões “epidérmicas”, sempre temperadas com a mais pura realidade, como política, ética, amor, sexualidade, saúde, além das relações entre as pessoas e delas com tudo que é externo, ela humaniza.

“Esta humanização lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar, com a outra mão, certa profundidade de significado e certo acabamento de forma que, de repente, podem fazer dela uma inesperada, embora discreta, candidata à perfeição.”

(CANDIDO, 1992, p. 13)

No entanto, mais que apresentar facetas que dizem respeito à importância histórica e social de um gênero, como fizemos acima, um projeto deve aclarar potencialidades práticas que esse gênero traz ao âmbito escolar. Entre as da crônica, há, por exemplo, a oportunidade que oferece para o trabalho com temas e saberes transversais – que faz dela um instrumento interdisciplinar bastante interessante –, e a capacidade mediadora que tem entre as literaturas infantil, juvenil e adulta. De uma crônica é possível extrair certa diversão despreocupada e, ao mesmo tempo, temas relevantes, permitindo que os alunos descubram, nessa gangorra, os seus próprios traços de leitura. Permite ao professor, também, constituir uma avaliação contínua e voltada à formação de um leitor, e não só de um aluno que cumpra essa ou aquela prescrição.

Pondera Ana Maria Machado:

“Volta e meia a gente encontra alguém que foi alfabetizado, mas não sabe ler. Quer dizer, até domina a técnica de juntar sílabas e é capaz de distinguir no vidro dianteiro o itinerário de um ônibus. Mas passa longe de livro, revista, material impresso em geral. Gente que diz que não curte ler. Esquisito mesmo. Sei lá, nesses casos, sempre acho que é como se a pessoa estivesse dizendo que não curte namorar. Talvez nunca tenha tido a chance de descobrir como é gostoso. Nem nunca tenha parado para pensar que, se teve alguma experiência desastrosa em um namoro (ou em uma leitura), isso não quer dizer que todas vão ser assim. De repente, pode descobrir delícias que nem imaginava, gostosuras fantásticas, prazeres incríveis. Ninguém deveria ser obrigado a namorar quem não quer. Ou ler o que não tem vontade. E todo mundo devia ter a oportunidade de experimentar um bocado nessa área, até descobrir qual é a sua.” (2001, p. 12) 

Dando mais um passo no campo das potencialidades escolares, a crônica possibilita pensarmos em produções escritas mais prazerosas e pessoalizantes, já que nasce da “vazão da pena”. Os jovens costumam se achar distantes da criação artística, como se essa contemplasse poucos e seletos. Todavia, a simplicidade desse gênero vem provar o contrário: que qualquer um pode exercer a função de documentador de seu tempo, incluindo opinião, senso crítico e capricho estético, assim como vem provar que tudo é motivo para um texto. Basta reagir às inúmeras excitações que a vida provoca.

Concluindo, este projeto procura constituir o prazer pela leitura através do contato. Prazer, contato, essa coisa bem humana. Nosso maior prêmio é imensurável e impossível de avaliar. Um amigo não se conquista de um dia para o outro. Não se diz “olá, somos amigos” e pronto. É preciso apresentar-se, logicamente, porém, mais adiante, manter-se em uma troca de afetuosidades e segredos, a partir da qual tende a nascer uma condensação de dois em um só. É rindo e chorando ao texto e ouvindo, também, suas confissões e temores, que se sustentam os verdadeiros leitores, esses que pretendemos ver ganhando forma nas salas de aula.

Nosso público-alvo é o 9º. ano (8ª série). Acreditamos que o bom desenvolvimento das atividades faça com que a carga curricular (tanto de leitura quanto de escrita) que vem com o Ensino Médio seja mais bem recebida pelos alunos recém-ingressados.

 

Sequência didática

Fundamentos metodológicos

Para o trato nas oficinas de escrita e leitura, desenvolveremos nosso edifício sobre o terreno da relação professor-aluno assentada por Lucy McCormick Calkins. Segundo ela, há uma necessidade prévia e inata de escrita em todos os seres humanos. Disseminar histórias e prazeres é um direito; no entanto, tal exercício não é, na prática, tão simples. Da formação dos jovens, que vivem, em sua grande maioria, sob o show de sombras da cultura de massa, até a concretização de intelectos atuantes, deve haver um processo de conquista, e esse processo depende diretamente de dois fatores: o professor como instituição e o material como couvert.

O desinteresse por qualquer um desses é suficiente para criar um enorme vão entre o aluno e a escola, ou, mais tecnicamente, entre o conhecimento e o lugar aonde este deve ir. Portanto, em nosso projeto, as crônicas servem de ímã para um possível encontro dos alunos com um “gênero menor” (CANDIDO, 1992, p. 13), que, entretanto, não dissolve, de forma alguma, a ideia de um ensino concreto de língua e literatura.

Calkins atenta para a criação de uma energia para escrever, encontrando nos alunos, por meio dos professores e dos materiais, a essência individual para a produção efetiva de um sujeito que tenha sua própria “voz” e seus ideais. Para isso, ensinar deve ser como subir uma escada sem degraus tendo em mãos duas tábuas. Colocamos a primeira, subimos, colocamos a segunda, subimos, rebuscamos a anterior para que nos sirva novamente, subimos, e assim por diante. É por isso que a pesquisa deve fundamentar a prática. Nosso projeto não enfatiza o produto final, mas sim o processo. As oficinas preservarão um número razoável de interações dos alunos com seus textos, para que o anseio pela melhora se confunda com os esforços do dia a dia. Afinal, o estudante tem um direito assegurado de poder ensaiar, esboçar, revisar e editar aquilo que será sua avaliação e, mais que isso, seu atestado de leitor, escritor e cidadão do mundo apto para pensar e intervir.

“Aprender o que somos, o que nos estamos tornando agora e o que podemos fazer, mediante um contexto histórico-comparativo, denso e justo, é ainda a tarefa prioritária das ciências humanas no Brasil.” (BOSI, 1987, p. 15)

 

Módulo I – Conhecendo a crônica

O trabalho multimídia

Quando pensamos em formas de contar histórias e na atração que elas exercem sobre os leitores, vem às nossas cabeças, muitas vezes, uma ideia estereotipada (e errada) de que, porque vivemos em uma época bastante influenciada pela tecnologia, as pessoas já pouco se interessam por literatura e o lirismo morreu. O preconceito subleva-se ainda mais se o objeto são os jovens, tidos, sempre, como os grandes intermediários das transições de costumes.

Analisando com um pouco mais de cuidado, porém, podemos perceber que, em meio a esse novo mundo, as formas de contar histórias somente se diversificaram, permanecendo intacta a necessidade humana de narrar. Pensando nessa diversificação, e projetando incluí-la no trabalho com alunos de uma geração nomeada por uma letra que nem de nosso alfabeto é – Y –, torna-se um desafio iniciá-los no mundo da “imaginação” sem que utilizemos recursos próximos a eles (e, por consequência, próximos a essa diversificação que eles intermediam). A visualização – por conta do cinema, da televisão, da computação, etc – e o movimento – atalho quase sine qua non, hoje, para a apreensão dos fatos – venceram a sugestão, conceito que foi, ao longo dos tempos, e ainda é, em menor dimensão, caminho para o entendimento dos efeitos causados pelas artes em geral.

Considerando esses fatores, propomos a utilização de curtas-metragens – disponíveis em grande quantidade na internet – e fotografias – as quais, pelos aparatos que se tem, podem ser facilmente tiradas ou encontradas. Confiamos que a inclusão desses recursos para motivar e alavancar o trabalho em sala de aula torna nossa intervenção mais útil e didática do que se apenas entregássemos uma folha de papel e exigíssemos que a imaginação fluísse. Ela não se destaca em tom opaco.

Tal confiança não se traduz em uma tentativa de moldarmos a imaginação dos jovens, mas, sim, de não lhes tirarmos o chão de uma só vez. A transição entre o “pronto” e o que precisa ser criado deve ser constituída paulatinamente, colorindo esse universo particular que se apresenta, inicialmente, como uma tela vazia.

No que se refere aos inúmeros materiais que podem ser contemplados, canais como o Google, o Youtube e muitos outros, conhecidos pela imensa maioria das pessoas, podem oferecer um leque incomensurável de crônicas, vídeos e fotografias. Os educadores podem e devem se aventurar nessas atividades, desde que haja, na escola em que se propõe aplicar o projeto, aparatos que deem respaldo a todo esse conceito apresentado. 

 

As primeiras aulas: o panorama de leituras

Para dar o primeiro passo e familiarizar os alunos com o gênero a ser estudado, o professor poderá reservar o número de aulas que julgar necessário para fazer um panorama de leituras. Esse panorama deverá conter um apanhado de crônicas justificadas por meio de um recorte seletivo, que pode ser temporal (nesse caso sugerimos que se evolua inversamente, indo do século XXI, ou seja, de crônicas contemporâneas, para o XIX, quando o cronista ainda entrava em cena[2]), temático (a gama de assuntos recorrentes em crônicas é enorme: política, viagens, sociedade, sexualidade, violência, amor, guerra, etc.) e até livre (caso haja espaço para um enfoque especial, fruto de agentes externos). Com a finalidade de atender à noção que está, inclusive, presente no nome da atividade – panorama –, é interessante que o professor procure variar o seu corpus, equilibrando-o entre as múltiplas possibilidades que se abrem (e elas se abrirão seja qual for o seu recorte seletivo).

Para cada aula, que, de acordo com seu andamento, dará conta de um ou dois textos, o professor poderá, seguindo os fundamentos de multimídia apontados no tópico anterior, trazer materiais que sirvam de couvert, ou mesmo de prato principal, na condução das discussões e atividades referentes às crônicas lidas. Lembramos, este projeto tem caráter sugestivo: seguem abaixo alguns exemplos de como esse trabalho com texto e mídia pode render. Cada professor, no entanto, ciente das suas turmas e consciente de seus objetivos, deverá organizar-se previamente, a fim de elaborar um cronograma que contenha crônicas potenciais e, mais que isso, bons materiais de acompanhamento, operacionalizando leituras mais leves e ricas.

 

O mineirinho, de Clarice Lispector 

Exemplo baseado em uma aula aplicada por uma das integrantes de nosso grupo, Laís Sartori Rodrigues, em seu estágio de MELP II.

 

Vídeos sugeridos para a aula: 

The Clocktower:

<http://www.youtube.com/watch?v=nMIOuPxhCVI

e o filme Tropa de Elite II

 

Ligamos nossos aparelhos de televisão, hoje, e vemos notícias de como o Rio de Janeiro está enfrentando a ‘guerra contra o tráfico’; em qualquer outro dia em que os ligarmos, veremos notícias de crimes absurdos e pessoas passando por necessidades. Esses tipos de manchete aparecem tanto, e com tal constância, que algumas pessoas, já tendo seus corações anestesiados, consideram a violência algo inerente à sociedade dos dias atuais. Nesse ritmo, vamos nos tornando “pedras”. Nessa insensatez, vamos nos desumanizando.

Há várias formas de lidar com O mineirinho, de Clarice Lispector, sendo uma delas destacar essa nossa insensibilidade à violência. Para traçar um paralelo, pode-se usar o recente filme de Zé Padilha, Tropa de Elite II, para perguntar se os alunos são mais propensos a torcer pelo “time” do policial que bate em todo mundo – Capitão Nascimento –, ou pelo do defensor dos direitos humanos – Fraga. Pode ser iniciado um debate, baseado nas respostas deles, sobre o que é crime e o que é castigo, e sobre as nossas reações diante de tais atos.  

 

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Pode-se, também, a partir do trecho “Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos”, um fragmento da crônica, trabalhar a forma como a autora explicita coisas que ocorrem com todos nós em diferentes âmbitos da vida: a incapacidade de ação e revolta, a forma como aturamos as dificuldades para que a vida não saia do eixo (ainda que esse eixo não atenda às nossas expectativas), etc. É para dinamizar essa atividade que surge o curta-metragem The Clocktower, cujo enredo consiste em uma garotinha, que faz parte da engrenagem de um relógio, que resolve sair de sua posição fixa e conhecer o mundo. Contudo, ela percebe que as coisas não funcionam da mesma forma se ela não cumprir o seu papel.

 

A última crônica, de Fernando Sabino

Fotografia sugerida para a aula:

 cronicas-01

 

Mostrando-se essa foto aos alunos, é provável (e esperado) que os primeiros olhares sejam superficiais. Uma possível e básica conclusão será: trata-se de um aniversário. A ela poderíamos dar o nome de “sondagem”. Com a colaboração do professor, porém, os alunos podem avançar alguns passos na compreensão dos sentidos potenciais da figura: um segundo nível de discussão, por exemplo, pode basear-se no tamanho do bolo, que é bem menor que os que comumente se vê. A partir daí, passo a passo, experiências pessoais tendem a ser trazidas. A menina, apesar do bolo minúsculo, sorri. Por quê? A família reatratada provavelmente é humilde, certo? O que importa mais: o objeto (símbolo) ou o carinho empenhado e envolvido por trás dele? Tudo isso visa ao envolvimento subjetivo das turmas.

Para começar a mergulhar no texto em si, pode-se perguntar à classe se é possível escrever sobre essa cena, ou seja, se há algum ingrediente nela que possa servir de retrato de um momento ou ‘estado (social)’ (como propõe o gênero crônica). O passo seguinte seria a leitura coletiva, pausada e detalhada de A última crônica, de Fernando Sabino. É importante que o educador reflita sobre os efeitos que essas estratégias trazem para as aulas, afinal, em suma, estará avaliando este projeto. Acreditamos que o gênero crônica possibilita uma maior liberdade no manuseio dos textos, pois, muitas vezes, meros parágrafos são bastante carregados de sentidos próprios (já foi possível ver isso em Mineirinho, em que um excerto foi capaz de valer o trabalho com um vídeo e, consequentemente, uma volumosa discussão).

Chegando ao segundo parágrafo, diz o cronista: “ao fundo do botequim, um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade (...) deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre (...). O pai (...) aponta no balcão um pedaço de bolo sobre a redoma. (...) O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia (...)”. Constitui-se aí, no aluno, uma contundente confluência, a partir do momento em que ele desloca exatamente as discussões feitas sobre a foto para um texto preexistente, sentindo-se amigo do mesmo e, mais que isso, de certa forma, um coautor. Ele passa a apreender bem mais claramente o que as palavras dizem, ao passo que também o faz com relação a como elas dizem. Diz o texto, ainda: “são três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo”[1].

Após a construção desse “intertexto”, pode-se ir adiante e trabalhar toda a beleza da crônica, utilizando as respostas daquela pergunta anterior, se era possível escrever algo sobre a fotografia. O texto em si, nessa altura, já terá respondido a essa pergunta. Os alunos podem tentar encontrar em suas próprias vidas alguns momentos especiais, que tenham sido tão simples e belos quanto o aniversário da personagem. Essas lembranças, conforme o tempo disponível, podem motivar um exercício de escrita, na tentativa de que se transforme em crônica outros puros e vivos olhares, assim como fez Sabino com o seu na crônica estudada.

Essas foram apenas algumas indicações práticas das infinitas possibilidades que se abrem ao trabalho do professor que buscar fundamentos neste projeto. Em meio a todas as nossas pesquisas de mídia, encontramos outros curtas-metragens com enorme potencialidade para serem usados em sala de aula. Entre eles, como referências, estão:

 

The Frat: <http://www.youtube.com/watch?v=rUD8R1d-6Ks>

A short love story in stop motion: <http://www.youtube.com/watch?v=3Af_VESR70g>

Going west: <http://www.youtube.com/watch?v=F_jyXJTlrH0>

V Water: <http://www.youtube.com/watch?v=APEIUMKCWzc>

Le coeur est un metronome: <http://www.youtube.com/watch?v=t8i4y6EwNvI>

Trois petit points: <http://www.youtube.com/watch?v=G0yC2ldpBFI>

Greed: <http://www.youtube.com/watch?v=GG67HhyL0Gs>

The Can: <http://www.youtube.com/watch?v=8gmsuw_GGhI>

 

Vale dizer, o Youtube oferece uma ferramenta de “vídeos relacionados”. Cada página elenca uma série de outras que podem ser alcançadas com um clique, as quais trazem algo próximo da que está sendo visitada no momento. Em outras palavras, estamos querendo dizer que o trabalho de garimpo se torna mais prazeroso, ao passo que não é preciso procurar-se, obrigatoriamente, por nomes ou temas. Cada vídeo pode levar o professor a outro, que levará a outro, a outro, etc. E assim será aberta uma variedade enorme de curtas-metragens.

 

Sugestões de leitura

Um livro de grande importância para este projeto foi As cem melhores crônicas brasileiras, organizado por Joaquim Ferreira dos Santos. Nele pudemos encontrar bastantes crônicas aplicáveis em sala de aula. Citamos, abaixo, algumas (que seguem anexadas ao final do projeto):

Meu ideal seria escrever, de Rubem Braga – interessante para a primeira leitura do gênero. É metalinguística, tratando com leveza da postura do cronista perante os espetáculos do acaso.

Amor é prosa, sexo é poesia, de Arnaldo Jabor – Trata de sexualidade. A enorme quantidade de comparações que há no texto e a dinâmica que possui possibilitam um trabalho menos engessado. O professor poderá escolher algumas diferenças entre amor e sexo que aparecem na crônica para serem debatidas. Para encontrar a postura ideal para tratar do tema, é aconselhável que o professor tenha uma visão razoável da bagagem social e cultural trazida por seus alunos.

Uma proposta de atividade está no aproveitamento do próprio texto. Diz o final da crônica: “Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte. Ou não, sei lá... e-mails de quem souber para o autor”.

Propor a elaboração de um e-mail para o autor, referindo-se à obra e imprimindo opiniões sobre o que foi dito e o que poderia ser, ainda, acrescentado.

Um casal feliz, de Danuza Leão – Espaço para discussões sobre sociedade, globalização e avanço tecnológico. A rapidez com que os produtos vão da utilidade para a superficialidade, o apego, o intuito da coleção e a memória familiar são pontos a serem discutidos. É possível, também, propor um link entre amor, cobiça – questões dueladas no texto – e a sociedade insegura e criminosa dos dias de hoje, na qual o verbo viver perdeu espaço para o ter.

Então, Adeus!, de Lygia Fagundes Telles – Diz respeito à tensão instalada ao final do século XX: o ser humano preocupado com a deformação da vida privada. O ritmo das evoluções, que no século XXI, sabemos, é caótico, era, há poucas décadas, uma questão mais abstrata e que impunha um caráter mais reflexivo. Discutir as virtudes e as desvirtudes dessa mudança.

Essa mocidade de hoje, de Marcos Rey – Uma crônica chamativa desde o nome. Declarar aberta a autorreflexão e trabalhar sobre três eixos do texto: o pó que vicia, os costumes antissociais e as máquinas “diabólicas”. Inicialmente, interpretá-los separadamente, inserindo, por exemplo, os conceitos de metáfora no que cabe ao pó. Que pó é este? A que ele se refere? E no caso do menino que faz serenatas, há um problema corriqueiro? Qual a diferença entre os três casos apontados no texto? A partir da última pergunta, debater as “patologias” sociais que são levantadas pela crônica: o pó e o vício como desagregações de valor, a fugacidade e os hábitos rebeldes como desvios de comportamento (discussão da masturbação e da reclusão, por exemplo) e os aparelhos eletrônicos como instrumentos de destruição da unidade humana de pensamento (a máquina vestindo o homem, e não o contrário).

A última crônica, de Fernando Sabino – Está em pauta aqui, sob duas das suas principais formas (a racial e a econômica), a temática do preconceito. Aproveitar a “deixa” do texto e incitar uma resposta às seguintes perguntas: como seria a sua última crônica? Que cena desejaria descrever? Vitalizar a beleza e simplicidade próprias do gênero, introduzindo, se for do interesse do professor, ligações com poesia e lirismo. Pensar no papel atual do negro dentro da sociedade: ele tem espaço? Cenas como a retratada por Sabino são recorrentes? Qual seria o motivo dessa recorrência ou não recorrência?

A invenção da laranja, de Fernando Sabino – Critica os processos de industrialização e transformação da natureza em produto “enlatado”. Abre-se a polarização entre os pequenos e os grandes prazeres: quais deles são, deveras, os mais importantes em nossas vidas? É possível viver sem a indústria? E sem a natureza das coisas?

Um exercício pode ser desenvolvido a partir de fotos sortidas, de vários objetos, naturais ou industrializados, que seriam distribuídas. Os alunos devem retratar possíveis processos de transformação desses objetos, tal como faz a crônica de Sabino, que propõe uma tese sobre a evolução do mercado do suco de laranja. Compreender de maneira lógica a degradação indireta de seu próprio mundo é um direito do jovem e uma obrigação da educação, sendo essa a grande ferramenta asseguradora da cidadania.

A mulher automática, de Oswald de Andrade – Destaca o conceito de “automatismo”. O professor aparece como um mediador importante entre a modernidade do início do século e a modernidade dos tempos atuais. Encontrar argumentos, no texto, que abram discussão sobre essa dicotomia. No campo textual, trabalhar a linguagem e o espaço: o vocabulário de Oswald é bastante peculiar e há ocorrências de diversos estrangeirismos; já espacialmente, o texto começa por “São Paulo”. Sem que houvesse tal apontamento, seria possível descobrir (ou, ao menos, sugerir) o lugar onde a cena transcorre?

O dia de um homem em 1920, de João do Rio – João do Rio, um “fotógrafo” da sociedade, é o dono de definições ímpares dos cidadãos da virada do século XIX para o XX. Nessa crônica, escrita em 1910, ele atenta para um futuro desesperador em 1920. É característica de uma grande parcela da humanidade acreditar em um futuro catastrófico e repleto de modernidades assombrosas. Cabe discutir em sala de aula até que ponto o texto é utópico ou verdadeiro. Diz seu início: “Dentro de três meses as grandes capitais terão um serviço regular de bondes aéreos denominados aerobus. O último invento de Marconi é a máquina de estenografar. As ocupações são cada vez maiores, as distâncias menores e o tempo cada vez chega menos. Diante desses sucessivos inventos e da nevrose de pressa hodierna, é fácil imaginar o que será o dia de um homem superior dentro de dez anos, com este vertiginoso progresso que tudo arrasta”. Algumas perguntas podem conduzir a análise desse brilhante trecho: há atualidade no fragmento? Poderia ter sido escrito por um de nós nos dias atuais?

Modern Girls, de João do Rio – É um retrato da jovialidade feminina do final do século XIX. Assuntos como imoralidade, ingenuidade e moda, os quais estão, hoje, vestidos com outras fantasias, já são discutidos no texto. No entanto, idealizar um comportamento feminino e taxá-lo é prática comum desde os tempos idos. Não só feminino, mas masculino também. Por conta disso, uma atividade interessante seria a leitura conjunta das duas crônicas de João do Rio – dessa e de O dia de um homem em 1920 – e a discussão acerca das curiosidades levantadas: as mulheres e homens de antigamente diferiam em quê das mulheres e homens de hoje? Depois, cada aluno poderia escrever uma minicrônica contando sobre o seu dia; o dia de um homem ou uma mulher do século XXI. A boa realização dessa atividade valeria, quem sabe, um módulo de exposição em homenagem a João do Rio, no qual os alunos fariam um apanhado documental de suas realidades específicas.

 

Módulo II – Oficinas textuais

 A partir de diversas atividades de aproximação entre os alunos e o gênero, este módulo encaminha a produção final dos alunos, que deverá ser uma crônica.

 

Aula 1 - O primeiro olhar: da crônica para a fotografia

Trata-se de, por intermédio do contato com o gênero crônica, trabalhar com os textos de modo a gerar uma maior intervenção por parte dos alunos. Neste primeiro olhar, cada aluno deverá escolher uma crônica estudada em sala de aula. Os próprios colegas poderão ajudar uns aos outros, a fim de que lembrem das questões constitutivas mais importantes de cada texto lido. É ideal que não se proíba a opção por uma crônica externa às preestabelecidas, desde que haja, logicamente, uma justificativa. Irão se manifestar, nessas escolhas, inúmeros critérios seletivos: linguagem, tema, tamanho, potencial humorístico, etc. Todos esses critérios, sem exceção, são importantes e determinam que tipos de leitor se tem à disposição. Depois de feitas as escolhas, o professor, dependendo do tempo restante, poderá pedir aos alunos: 1. uma releitura (ou primeira leitura) individual dos textos; e/ou, 2. uma argumentação oral ou escrita contendo os porquês da sua opção.

Sugestão de atividade para essa aula:

O professor poderá descontrair os alunos com um exercício de improviso baseado em rapidez de raciocínio e produção coletiva. Consistiria em uma produção cooperativa de uma só crônica. Cada aluno acrescentaria um novo fragmento ao texto (falando, se a produção for oral, escrevendo em folha itinerante, avulsa, se for escrita). Esses fragmentos todos nada mais seriam que fotografias colaborativas. Logo, a soma delas constituirá um mosaico, o qual, espera-se, respeite os traços característicos do gênero.

 

Para a aula seguinte,

o professor pedirá que cada aluno traga duas fotografias (tiradas por eles mesmos ou pesquisadas na internet) ou desenhos (para aqueles que não tiverem acesso às possibilidades anteriores). A primeira fotografia deverá “simbolizar” a crônica escolhida logo no início deste módulo. Vale lembrar, ela não tem o dever (pois não tem o direito) de representar a crônica em sua totalidade. A imagem recortada atuará apenas como registro de uma visão individual: a cena mais marcante, a emoção mais ativa, a reação mais decisiva. Essas imagens não serão avaliadas e servirão para iniciar a construção da relação entre crônica e unidade de expressão. A segunda fotografia, por sua vez, nada deverá ter com a crônica escolhida. Será um exercício livre, por meio do qual cada aluno poderá expressar aquilo que bem entender.

 

Aula 2 - O segundo olhar: da fotografia para a crônica

O professor recolherá as fotografias pedidas na aula anterior. No que diz respeito às referentes às crônicas escolhidas, ele deverá guardá-las. É o típico material que, além de dizer muito dos alunos, possibilita uma rápida interação de análise, permitindo que se veja até que ponto as atividades aplicadas estão sendo entendidas e, mais que isso, postas em prática.

Já com relação às outras fotografias, as livres, a proposta será diferente. Após recolhê-las, o professor fará uma rápida visualização. É preciso que ele as aprove enquanto matéria-prima para a produção textual. Não havendo problemas, devolverá uma a uma aos seus donos, cuja missão passará a ser percorrer um caminho inverso ao da aula anterior: os alunos deverão, a partir da imagem, escrever um primeiro esboço textual de crônica. Lembramos que, assim como a primeira fotografia não deveria (nem poderia) conter tudo da crônica escolhida, não se deve cobrar que esse novo texto respeite por completo a sua inspiração. No entanto, é parte da proposta que fique visível ao menos alguma relação entre eles (a imagem não deve algemar a escrita, mas sim motivá-la).

O professor recolherá esse esboço. A concentração do aluno-escritor em sala de aula, enriquecendo sua relação com o professor e o conteúdo, possui importância ímpar na criação de um laço afetivo entre sujeito, ambiente e produto. Tendo isso em vista, sugerimos que, ao menos nas primeiras aulas, não haja inclusão de atividades feitas em casa.

 

Aula 3 - O primeiro encontro: relações entre textos

Pensando no fato de que os alunos já terão iniciado suas produções textuais, faz-se imprescindível somar recursos que possam ir aumentando o repertório deles em momento de escrita. Isso passa, por exemplo, pela ampliação dos saberes que têm sobre a forma do gênero. No panorama de leituras, aquele do início da sequência didática, são trazidas crônicas que prezam por introduzi-los nas questões temáticas e metalinguísticas inerentes ao ato de leitura de crônicas. Tendo em vista que o aluno estará, agora, escrevendo a sua, o professor deverá se preocupar em propor atividades que o levem a reconhecer os conteúdos temáticos, o estilo e a construção composicional da crônica.

A partir desse fundamento, sugerimos a distribuição de três crônicas anônimas aos alunos. Anônimas, vale dizer, no sentido de que o professor deverá omitir seus autores, os quais, por uma questão didática, aconselhamos que sejam sempre os que já foram estudados em classe. Duas das crônicas deverão ser de um mesmo autor, enquanto a outra, logicamente, de outro[3]. Caberá aos alunos, divididos em grupos (preferencialmente trios), discutir os traços que são decisivos em uma possível determinação das autorias: vocabulário, tema, localização (se houver), aproximação com outras já lidas, etc. Deverão entregar seus palpites, ou seja, qual a crônica que não pertence ao conjunto, por intermédio de um comentário. Por meio dessa atividade, os alunos poderão perceber as nuanças e variações que há dentro de um mesmo gênero desde uma perspectiva crítica.

 

Aula 4 - O segundo encontro: relações entre autores e textos

O professor devolverá o material da aula anterior. Mesmo que determinados grupos tenham feito opções erradas, isso não atrapalhará o andamento da atividade, já que essa visa à elaboração de um raciocínio e não ao atendimento de um objetivo específico. As exceções dessa regra, no entanto, são os grupos que apresentarem comentários fracos e inconsistentes, com os quais o professor deverá conversar, procurando entender os motivos que os impediram de produzir críticas bem fundamentadas.

Os mesmos grupos se reunirão para dar mais um passo referente aos encontros. Agora, tendo em mãos apenas os dois textos que pertenciam a um mesmo autor (independentemente de a escolha da atividade anterior ter sido certa ou errada), tentarão desvendar quem seria esse autor. Por esse motivo, relembramos a importância de o professor inserir nas atividades apenas crônicas de autores que tenham feito parte do panorama de leituras. Dessa forma, os alunos terão, dentro do possível, conhecimentos prévios para lidar com traços constitutivos e saberão que o corpus de trabalho é restrito e selecionado. Mais um estágio será vencido: compreendedores do gênero e das suas características, os alunos terão atribuído ao texto um caráter subjetivo, mostrando reconhecer o discurso de um eu que se expressa e traz consigo visões de mundo e rasgos linguísticos próprios. Ficará mais estreita, então, imaginamos, a própria relação do aluno com o seu texto.

 

Aula 5 - O terceiro encontro: relações entre alunos, autores e textos

O professor devolverá o material das aulas anteriores aos alunos (duas crônicas tidas como de um mesmo autor, os porquês dessa escolha e o novo argumento que atribuiu um possível autor às mesmas duas crônicas). O último passo desses processos de cotejo passará pelo encontro dos alunos leitores/escritores com os autores estudados. Recebendo, então, seus próprios textos (as crônicas que começaram a escrever na Aula 2), os alunos os relerão e responderão à seguinte pergunta: se o seu texto fosse de outra época e de outro autor, de quando e de quem seria? Nesse momento, será completado todo o ciclo, que partiu das variantes entre textos anônimos de um mesmo gênero, passou pelas marcas que um autor pode talhar em seu texto e chegou a conclusões que possam contribuir para a reflexão do aluno na posição de autor.

 

Módulo III – Produção final

Este módulo focaliza a produção final, ou seja, as crônicas que estarão sendo escritas ao longo das aulas. Não haverá, daqui adiante, mais atividades interativas, exceto a exposição que encerrará o projeto, a qual cobrará, novamente, uma participação conjunta das turmas. 

 

Aula 6 - O fechamento: a última oficina de escrita

O professor separará essa aula para atender às últimas dúvidas teóricas do curso e permitir mais um contato dos alunos com seus textos em sala de aula.

Terminada a aula, eles poderão levá-los, pela primeira e única vez, para casa. Será garantido esse direito de mexerem em seus trabalhos mais atenta e minuciosamente, já que as crônicas já deverão ser entregues na aula seguinte.

 

Aula 7 - Montagem da exposição

Haverá a entrega definitiva das produções textuais e o início da montagem de uma exposição. Os alunos serão os responsáveis pela organização do ambiente, que será decidido e indicado pela direção da escola. A logística e os improvisos perante os imprevistos farão parte do processo de compreensão do fenômeno educacional.

O professor se deslocará junto com os alunos ao local de montagem. Ele acompanhará os trabalhos efetuando as leituras das crônicas entregues. Um por um, todos os alunos deverão ser chamados para um bate-papo construtivo, por meio do qual o professor apontará, sem nenhuma intenção avaliadora, pontos aparentemente falhos e outros altamente produtivos que tenham surgido. Após cada intervenção dessa, o aluno terá a responsabilidade de levar seu texto a algum espaço demarcado para a exposição.

O conceito dessa “mostra” traz uma apresentação dos textos produzidos, acompanhados dos seus devidos registros autorais, das fotografias inspiradoras (também com os devidos registros autorais) e de um informe, que deverá conter o nome do autor ou do texto que cada aluno mais gostou de ler durante as aulas. Todas essas escolhas e cuidados operados pelos alunos integrarão o processo simbólico de avaliação, por meio do qual o docente terá que simplesmente responder: os objetivos foram ou não atingidos?

A exposição poderá demandar mais tempo para ser montada, dependendo do número de alunos e da facilidade que eles encontrarem no trabalho coletivo de organização. Por esse motivo, é aconselhável que o professor reserve um tempo maior para essa atividade; talvez uma semana.

 

Notas

[1] Termo francês que indica pessoa que passeia ociosamente, espécie de detetive urbano. A cidade que percorre é a das transformações que ocorrem no século XIX. No caso de Paris, notabilizam-se as reformas implementadas por Haussmann. Com a construção dos boulevares e a destruição de uma centena de edifícios, ele não só concebeu novas vias de circulação para as pessoas, como também abriu a cidade à totalidade de seus habitantes. Guardadas as devidas proporções, as reformas urbanas que ocorreram no Rio de Janeiro no início da República apresentam analogias com as que Hausmann empreendeu em Paris no século XIX. A remodelação do Rio de Janeiro da Belle Époque, com a abertura de novas avenidas, demolição de casas e construção de novos prédios, propunha civilizá-la e modernizá-la, transformando-a em uma espécie de Paris dos trópicos. A literatura que representa esse processo é filha da cidade. No Brasil, (...) é o caso de autores como Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar, Machado de Assis, João do Rio, só para citar alguns. (ABREU, Jean Luiz Neves. O flanêur e a cidade na literatura brasileira: proposta de uma leitura benjaminiana. In: Mneme. Revista Virtual de Humanidades. Número 10, Volume 5. Abril/Junho de 2004. Disponível em: http://www.seol.com.br/mneme, grifos nossos)

[2] Dessa forma, os alunos podem ser introduzidos com mais suavidade no projeto, partindo de leituras que apresentam questões e linguagens próximas das que costumam vivenciar em seu cotidiano. Esse viés de integração entre o que há dentro e o que há fora da escola é um dos pontos mais importantes apresentados por essa proposta.

[3] Exemplos de proposta: duas crônicas de Drummond (Recalcitrante e Serás Ministro) misturadas com uma de Arnaldo Jabor (O mundo de hoje é travesti); duas crônicas de João do Rio (Tabuletas e Mercadores de livros e a leitura da ruas) misturadas com uma de Fernando Sabino (O homem nu), etc. Há acesso disponível na web a várias crônicas de grandes autores. O professor poderá tomar a liberdade de selecionar esse material da maneira que melhor entender. Os exemplos citados acima, de qualquer modo, estão disponíveis para download ao final da publicação.

 

Referências bibliográficas

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SÁ, Jorge de. A crônica. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1987. p. 8-9.

SANTOS, Joaquim Ferreira dos (org.). As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado das Letras, 2004.

 

* Este projeto contém arquivos anexos para download. Eles estão disponíveis logo abaixo, em "Baixar anexos".

   

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