Número 5 - Apresentação

 

Os textos deste número (e do número 4) foram produzidos em diferentes semestres da disciplina de MELP, nas turmas sob a responsabilidade da professora Neide Luzia de Rezende, e se encontram em diferentes níveis de acabamento. Entretanto, todos, selecionados pelo mérito, padecem com maior ou menor gravidade de um mesmo problema: a falta de planejamento de atividades linguísticas mais intimamente vinculadas aos textos e/ou gêneros selecionados para o trabalho.

Tal dificuldade é comum neste momento de mudança de paradigmas, em que o trabalho com o texto (concebido quase hegemonicamente enquanto gênero do discurso) é a unidade básica do ensino de língua portuguesa: operacionalizar a gramática no texto ainda é um desafio para o professor de português, seja ele o antigo, em exercício, seja o novo, em formação.

São várias as razões dessa dificuldade, que vão desde uma representação há muito instalada entre os docentes de língua portuguesa, a de que uma boa aula ainda é a que se sustenta na gramática normativa de estudo das orações, até o desalinho entre formação básica e formação docente, passando por inúmeros outros obstáculos.

Conscientes disso, os professores e licenciandos de MELP vão buscando encontrar um caminho, e esta revista de certo modo tenta apontar os lugares a que se tem chegado.

Também como o número anterior da Revista MELP, este traz propostas para a sala de aula, organizadas em sequências didáticas, segundo perspectiva teórica de Dolz e Schneuwly. Também está presente a ideia de projeto pedagógico baseada em Fernando Hernández (ver Apresentação, Revista MELP n. 4).

Entretanto, tais vínculos teóricos e metodológicos não significam que esses trabalhos sejam reproduções fiéis do que os autores estudados propõem. Muitas foram as liberdades tomadas, tendo sido preservadas, porém, suas ideias de base, sobretudo no que se refere à ênfase no processo de formação do aluno e na operacionalização de seus saberes.

O aluno proveniente do curso de Letras, dotado dos recursos que adquiriu em sua trajetória acadêmica e profissional (algumas vezes ele já tem experiência na docência), tem, na Licenciatura, a oportunidade de aproveitar seus conhecimentos sob uma nova ótica, tendo em vista o seu futuro papel. Por outro lado, as perspectivas adotadas igualmente levam o licenciando, nas proposições que mobiliza, a não se esquecer, ele próprio, do polo da aprendizagem – o aluno da escola básica, de quem será professor em breve. Esse foco é fundamental para o trabalho de ensino, que, tradicionalmente, se centra nos conteúdos a serem ensinados e, com frequência, não dá a necessária importância ao processo de aprendizagem. Procurou-se selecionar, para este número, propostas que abarcassem uma heterogeneidade de “gêneros” e que se situassem em diferentes universos semióticos. São práticas culturais presentes no universo das crianças e dos jovens, que, trazidas enquanto tais para a escola e submetidas a uma dimensão de aprendizagem, podem oferecer – a exemplo do que tradicionalmente se espera do texto literário – um espaço extraordinário de formação e uma abertura para um modo particular de apreensão do mundo.

Assim, nas propostas que se busca desenvolver em algumas turmas de MELP, são legitimados e valorizados gêneros decorrentes de diferentes níveis da cultura, de modo a promover na escola – lugar de elaboração do conhecimento e de reflexão crítica – um saber mais aprofundado sobre nossa cultura passada e presente, o qual, espera-se, seja o alicerce de uma cultura futura igualmente dotada de multiplicidade.

Cruzam-se nas propostas deste número 5: 1. leitura de romances e escrita de sinopses, em um projeto cujo desenvolvimento foi cuidadosamente relatado (Formando leitores); 2. cordel e teatro (Adaptação do cordel ao gênero teatral); 3. mitologia grega e videogame, a partir do livro Prometeu acorrentado, distribuído pelo governo às classes de 7º ano (Uma sequência didática baseada na leitura de Prometeu acorrentado, de Ésquilo); 4. contos populares de terror e contos fantásticos (Conterrorizando: da história de terror ao conto); 5. diário, colagens, música e exposição, a partir da leitura do diário de Anne Frank (O diário de Anne Frank: sequência didática em torno do gênero diário); 6. crônicas e estratégias para a sua utilização, que incluem cinema e fotografia (Crônicas: leituras e leitores); e, por fim, 7. rádio e a variedade de gêneros escritos e falados que veicula (Tá ligado?! - Criando uma rádio na escola).

Esperamos que tanto os professores já formados quanto os que estão em processo de formação possam extrair das ideias aqui apresentadas possibilidades e lampejos para o trabalho de sala de aula, quando não sequências didáticas inteiras para desenvolver com seus alunos.

Comitê editorial

    

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