Conterrorizando: da história de terror ao conto

 

Andréia Manfrin Alves
Cícero Alberto de Andrade Oliveira
Fernanda Lopez
Gilsandro Vieira Sales

 

Resumo
Este projeto aborda contos e histórias de terror e tem como público-alvo estudantes do Ensino Médio. Seus principais objetivos são: desenvolver a oralidade (pela contação de histórias recuperadas pelos próprios alunos com seus familiares e colegas); estimular a leitura (aproveitando os efeitos característicos que esse gênero produz em quem o lê); e incentivar a produção escrita (promovendo a criação e recriação de contos que, ao final, poderão ser apresentados em um sarau e/ou publicados em um blog).

 

Palavras-chave
Contos de terror, contação de histórias, leitura coletiva, produção textual

 

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Introdução

Histórias de terror ou de acontecimentos sobrenaturais sempre estiveram presentes nas diversas culturas humanas: da Odisséia a Dom Quixote, de O Exorcista a Harry Potter, aquilo que escapa à explicação racional, ao mundo real, parece sempre ter fascinado o ser humano. Histórias transmitidas oralmente de geração para geração, lendas, fábulas, “causos”, contos: o que não podemos explicar também pode nos atrair (e nos explicar, em certa medida). Verdade ou mentira, real ou irreal, não se sabe ao certo; fato é que o mistério, a incerteza, a hesitação e o caráter espetacular de algumas histórias nos prendem, seja para ouví-las, seja para lê-las – e foi apostando nesse fascínio provocado pelas histórias de terror que desenvolvemos o presente projeto.

Nosso percurso vai da história de terror transmitida oralmente ao conto de terror (popular na Europa do século XIX), o qual é “irmão misterioso da poesia e síntese viva ao mesmo tempo que vida sistematizada”, gênero literário cuja origem estaria na tradição das narrativas orais, aquelas que “se transmitem à noite à roda de fogo” e que têm o poder de revelar (ou criar), expandindo a sensibilidade. A partir do recorte de um fragmento, o conto “fixa determinados limites, mas de tal modo que esse recorte atua como uma explosão que abre, de par em par, uma realidade muito mais ampla, como uma visão dinâmica que transcende” (CORTÁZAR, 1979. p. 150).

O conto, gênero de definição por vezes controversa devido à sua transformação ao longo do tempo é, de modo geral, classificado como narrativa ficcional breve, menor que a novela e o romance. Pode caracterizar-se essencialmente por sua capacidade de apresentar, de forma concisa, um acontecimento cujo eixo é um conflito que pode ou não ser resolvido ao final. Edgar Allan Poe, tido como um dos precursores do conto moderno, afirma que um bom conto caracteriza-se pela intensidade, conseguida através da brevidade e da unidade. Julio Cortázar, por sua vez, afirma que no conto deve estar presente, sempre, uma tensão constante.

Dentro do gênero conto há desdobramentos que permitem subdivisões, sendo o conto fantástico considerado um novo gênero, com traços que o particularizam. Esses traços estão ligados fundamentalmente ao sobrenatural e os temas abordados remetem à ideia aparente de fenômenos inexplicáveis do ponto de vista da razão. Aparente porque um dos elementos apontados como básicos para a caracterização desse novo gênero é a ambiguidade, que resulta de uma hesitação (tanto da personagem quanto do leitor) diante de um fenômeno. Essa hesitação, por sua vez, é gerada pelo questionamento relativo ao pertencimento ou não, ao mundo real, daquilo que foi presenciado. Tzvetan Todorov, no livro Introdução à literatura fantástica, oferece uma explicação mais detalhada desses elementos que compõem o conto fantástico:

“o fantástico se fundamenta essencialmente numa hesitação do leitor – um leitor que se identifica com a personagem principal – quanto à natureza de um acontecimento estranho. Esta hesitação pode se resolver seja porque se admite que o acontecimento pertence à realidade; seja porque se decide que é fruto da imaginação ou resultado de uma ilusão; em outros termos, pode-se decidir se o acontecimento é ou não é.” (1975, p.165-166)

Essas definições – tanto a de conto, de modo geral, quanto a de conto fantástico – são essenciais para compreendermos quais são as características necessárias para a composição do segundo, objeto de trabalho que norteará a sequência didática. A partir do gênero conto fantástico, pretendemos:

1. Desenvolver a oralidade: recuperar histórias de mistério e terror que os alunos ouviam de seus familiares e fazer com que eles as reproduzam (trabalhar entonação, ritmo, respiração e outros recursos utilizados nas narrativas orais);

2. Aplicar estratégias de leitura: perceber, na construção do texto, quais os recursos que o autor utiliza para criar tensões (suspense, medo e mistério), como ele faz para compor uma personagem soturna e como o narrador adapta o mundo para prender a atenção dos leitores.

3. Estimular a escrita: incitar a transcrição de contos já conhecidos e a criação de novos.

 

As vítimas

O projeto foi desenvolvido para alunos do Ensino Médio (com idade entre 15 e 18 anos), mas pode ser adaptado para séries do Ensino Fundamental.

 

Sequência didática: dissecando em partes

Optamos por uma abordagem metodológica baseada em oficinas de leitura, escuta e produção de textos. Isso porque partimos do princípio de que a apropriação dos textos pelos alunos (tanto dos contos lidos como de suas próprias produções) é extremamente relevante para que os conteúdos não sejam trabalhados de forma estanque e desprovida de sentido.

Visamos à compreensão, pelos alunos, de que eles são parte integrante do processo ao lerem e relerem as obras, ao contarem histórias conhecidas, ao escreverem um texto e ao julgarem a qualidade da produção textual de um colega a partir dos recursos que lhes foram apresentados.

Desenvolvemos o projeto utilizando o conceito de sequência didática de Dolz, Noverraz e Schneuwly. Estabelecemos um total de treze aulas (treze é o número do azar), mas a quantidade pode variar de acordo com as características de cada turma (os professores têm total liberdade para fazer as adaptações necessárias). Os exercícios procuram criar contextos específicos para as produções oral e escrita de histórias e contos de terror.

Abaixo, esquematicamente e em ordem, apresentamos, uma a uma, as atividades que sugerimos:

 

 

Escrita

Oralidade

Leitura

Aula 01

 

♠ Contar uma história de terror para os alunos;

♠ Pedir que eles contem histórias que conheçam ou sugerir que peçam ajuda para pais, avós e familiares, caso não conheçam nenhuma história (primeira produção oral);

 

Aula 02

 

♠ Leitura dramática de A queda da Casa de Usher para os alunos;

Aula 03

 

♠ Contexto histórico dos contos fantásticos (por que esses contos se produzem em épocas passadas?)

♠ Questão para os alunos: o que lhes provoca medo?

 

Aula 04

 

♠ Distribuir o conto A queda da Casa de Usher;

♠ Releitura dele (pela classe) em voz alta, observando entonação, ritmo e respiração;

Aula 05

♠ Os alunos escreverão uma história (estranha, de algum fato sobrenatural) que conheçam (primeira produção escrita);

 

 

Aula 06

♠ Selecionar trechos de gêneros diversos (notícias, narrativas, poemas) e distribuí-los aleatoriamente aos alunos. Numa caixa, colocar papéis com “estados de espírito” (apreensivo, triste, perturbado, etc.). Explicar que os alunos deverão ler os trechos em voz alta e de acordo com o “estado de espírito” sorteado;

Aula 07

 

♠ Distribuir fichas com imagens (ambientes sombrios, casas abandonadas, pessoas soturnas) e pedir para os alunos descreverem o que viram.

♠ Localizar no conto, a partir de uma nova leitura, passagens em que haja descrição de pessoas e ambientes.

Pergunta-chave: Você acha que a descrição é importante nesta história? Por quê?

 

Aula 08

 

 

Leitura de um novo conto – Ligéia. A partir dele, trabalhar as figuras de linguagem (hipérbole, sinestesia, metáfora).

Aula 09

 

 

♠ Entregar os textos produzidos pelos alunos na quinta aula, já avaliados.

♠ Selecionar trechos “problemáticos” (coesão, coerência, ortografia) e corrigí-los coletivamente.

Aula 10

♠ Retomar os textos da última aula e pedir que os alunos os reescrevam.

 

 

Aula 11

♠ Com os textos reformulados, separar a sala em grupos e pedir aos alunos que escolham o melhor entre seus textos.

♠ Cada grupo deverá escolher um representante para fazer a leitura dramática desse conto para o restante da turma.

Aula 12

♠ Apresentação final dos contos escolhidos.

♠ Votação dos textos que poderão ir para um blog e que poderão ser apresentados para o restante da escola em um sarau.

Aula 13

 

♠ Sarau e possível apresentação dos textos no blog de Contos de Terror.

 

           

Módulo I

Atividade 1 - Conterrorizando

A primeira aula é fundamental para o bom andamento do projeto, pois é nela que o professor precisa conquistar os alunos e fazer com que eles se envolvam na atividade.

Na apresentação da proposta, o professor informa que a turma irá contar, ler e escrever contos de terror e, no final do projeto, os melhores trabalhos serão publicados em um blog e lidos em um sarau temático, que poderá ser realizado para toda a escola ou apenas na sala de aula, dependendo da disponibilidade. Além de serem conquistados pelo projeto, os alunos precisam estabelecer um vínculo afetivo com o gênero e, para isso, uma boa apresentação é imprescindível.

Propomos, nessa primeira aproximação, que o professor conte (utilizando todos os recursos que tornam uma narrativa oral “viva”, isto é, o trabalho de respiração, a entonação, o gestual, a mímica, etc.) uma história de terror (ele tem a liberdade de escolher uma história de que goste, que o tenha marcado ou tido importância em sua vida, para que o prazer de contá-la seja maior). Após isso, ele pode pedir aos alunos que contem outras histórias que conheçam. Para aqueles que não conhecem nenhuma, pode pedir que as colham junto a seus familiares e colegas (esse contato é uma forma interessante de, simbolicamente, trazer a família para a escola e aproximar o aluno da cultura familiar, muitas vezes enfraquecida por conta da falta de diálogo). É aconselhável certa antecedência nessas recomendações para que a programação inicial não seja prejudicada.

A apresentação de um conto pelo professor mostra aos alunos qual é o resultado final que se espera: saber contar um conto de terror; depois disso, os contos trazidos por eles dão uma ideia sobre quais as visões que se tem sobre a atividade proposta. Elas são decisivas, pois guiam o trabalho docente. É nesse momento, ainda, que o professor explicita as capacidades que espera ver nos alunos ao final do projeto, encaminhando o processo de avaliação.

 

Atividade 2 – Caindo na armadilha

Feito o trabalho de sensibilização (partindo inicialmente da oralidade), o professor lerá, na segunda aula, um conto para a classe. Sugerimos A queda da Casa de Usher, do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (não apenas por tratar-se de um dos mestres do gênero que baseia o trabalho, mas também porque seus textos podem ser facilmente encontrados em bibliotecas públicas e de escolas, além de sites, facilitando o acesso do docente e dos estudantes ao material).

O trabalho de leitura dramática do texto apresentará para os alunos o segundo objetivo deste projeto, que é ensiná-los a ler (em voz alta) um conto de terror. Por isso é importante que o professor ensaie o conto com antecedência, preparando sua apresentação. Ao ler, ele se expõe, mas:

“se ele [o professor] puser ali o seu saber dominando seu prazer, se sua leitura for ato de simpatia tanto para o auditório quanto para o texto e seu autor, se ele conseguir fazer entender a necessidade de escrever despertando nossas mais obscuras necessidades de compreensão, então os livros se abrem largamente, e a multidão daqueles que se acreditavam excluídos da leitura se colocam bem ali atrás dele.” (PENNAC, 1995, p. 196)

A Queda da Casa de Usher narra a história de um homem que recebe uma carta de um amigo de infância (Roderick Usher) dizendo que está muito doente e pedindo a sua presença. O chamado é prontamente atendido. Chegando à mansão dos Usher, esse homem se depara com um cenário sombrio (“muros frios”, “troncos apodrecidos”, “fileiras de juncos”, “tudo tornava a paisagem depressiva e gelada”) e fatos estranhos começam a acontecer. A leitura dos primeiros parágrafos do conto já revela o tom dessa narrativa, que precisaria ser mantido e reproduzido (na medida do possível) pelo professor. Para criar-se a atmosfera de mistério e suspense na leitura é crucial que seja empregado um tom grave e reticente. Terminada a leitura, o professor pode fazer algumas perguntas para os estudantes: Qual a sua impressão sobre o conto?; Qual a impressão do personagem sobre o lugar?; O narrador tem certeza do que está acontecendo com ele?; Você conhece alguma história que tem uma casa parecida com a do conto? Entretanto, é bom lembrar que os alunos trazem suas próprias impressões e perguntas e é fundamental que tenham a oportunidade de apresentá-las e discutí-las. É importante que digam o que pensam para que, só depois, então, haja uma sistematização das questões estruturais do gênero.

 

Atividade 3 – Definindo o gênero

Esta atividade visa a um esboço de definição (informal, da própria sala) do conto fantástico. Para fazê-lo, pode-se questionar os alunos sobre o que lhes provoca medo ou terror; a intenção é de trazer à tona as sensações que as histórias desencadeiam e, a partir delas, sistematizar e definir aspectos estruturais do gênero. 

Nesse momento, pode ser interessante, também, trabalhar o aspecto histórico do conto fantástico, falando de seu surgimento (Todorov o situa no século XIX, apesar de existirem novelas góticas no XVII e XVIII) e de uma de suas principais características, a de possuir, historicamente, um caráter transgressor, já que:

“uma série de temas que provocam freqüentemente a introdução de elementos sobrenaturais: o incesto, o amor homossexual, o amor a vários, a necrofilia, a sensualidade excessiva... cada um desses temas foi, de fato, freqüentemente proibido, e pode ser ainda em nossos dias... A condenação de certos atos pela sociedade provoca uma condenação que ocorre no próprio indivíduo, proibindo-o de abordar certos temas tabus. O fantástico é um meio de combate contra uma e outra censura (...). ” (TODOROV, 1969, p. 161)

Alguns aspectos não podem faltar no momento da sistematização da estrutura dos contos fantásticos: a hesitação, o narrador em primeira pessoa e a descrição. Frases que exprimem incerteza, torpor, e a utilização de verbos no imperfeito, por exemplo, criam a sensação de hesitação. As indagações que eventualmente o narrador faz a si mesmo podem confirmar sua incerteza com relação aos eventos ocorridos.

A ideia de ambiguidade é reforçada pela presença do narrador em primeira pessoa: ele testemunha os fatos, mas as coisas que lhe sucedem são de tal forma estranhas que ele duvida de que elas possam ser verdadeiras. Isso faz com que o leitor também tenha dúvidas (hesite) sobre a veracidade ou não dos fatos, como ocorre no seguinte trecho:

“E eu que me dispusera a passar semanas naquele lugar! ... O fato é que ali estava eu. E nem me lembrava bem de Roderick... Sei que minha imaginação trabalhara tanto que parecia haver realmente, em torno da mansão e no domínio inteiro, uma atmosfera própria”. (POE, 2005, p. 76)

A descrição dos cenários feita pelo autor e a escolha do léxico são bastante importantes na criação da sensação de suspense:

“Era, de fato, muito antigo. E o tempo desbotara tudo. Muitas plantas pequenas cresciam no telhado, descendo pelos beirais. Isso, porém, não significava estrago na construção. Pelo contrário, esta se encontrava intacta. Nada desmoronando. Mas parecia haver uma violenta contradição entre o ajuste perfeito das pedras e seu estado de esfarinhamento, de fragmentação isoladamente. Dava mesmo a impressão de uma estrutura apodrecida durante longos anos, mas que o contato com o ar exterior a fizera manter-se de pé”. (POE, 2005. p. 76)  

“Desbotara”, “desmoronando”, “esfarinhamento”, “fragmentação” e “apodrecida”, termos usados na caracterização da casa, vão se sobrepondo e construindo um cenário de “ruínas”, bastante apropriado para uma história de mistério. Em todo o conto esses recursos são utilizados; logo, destacá-los para os alunos é fundamental para que possam colocá-los em prática na produção dos seus próprios contos (a caracterização morfológica e sintática desses termos também merecem atenção).

 

Atividade 4 – Aprendendo a “dizer” o conto

 Este é o momento de distribuir o texto A queda da casa de Usher (que poderá ser a tradução direta do original de Edgar Allan Poe ou a adaptação feita por Clarice Lispector) aos alunos.

O conto, já lido pelo professor, será agora relido junto com os alunos, que o terão em mãos. Essa estratégia de apresentar o texto “materializado” somente depois deles terem tido contato por meio da escuta é uma forma de fazer com que se interessem pela forma com que o texto escrito é construído. Entra aqui a idéia de tecer, que está na origem da palavra texto. Ao ler, apenas, o professor está apresentando uma forma mais próxima da oralidade (apesar do material lido estar escrito), já que ao ouvir apreendemos estruturas nucleares e elementos principais do que está sendo lido. Mediante a visualização do texto, possibilitada pela leitura conjunta, é que o aluno perceberá os reais recursos textuais utilizados pelo autor, tais como encadeamento de orações, divisão por parágrafos, pontuação, aliterações, assonâncias e outros recursos estilísticos.

Aqui, pode-se dar destaque à entonação, ao ritmo e à respiração, demonstrando aos alunos que a leitura deve contemplar esses aspectos se quiser transparecer o clima que o autor procurou criar quando escreveu a história.

 

Módulo II

Atividade 5 – Pondo a mão na massa

Os aspectos da oralidade e da leitura trabalhados nas cinco aulas anteriores já poderão, a essa altura, convergir para o trabalho escrito. As narrativas orais colhidas pelos alunos com seus familiares serão passadas para o papel, e é interessante que esse processo seja trabalhado com mais profundidade.

As diferenças entre oralidade e escrita são nítidas e o professor pode explorá-las. A hesitação e a repetição presentes na fala são traços que geralmente inexistem no texto escrito. A fala, como sabemos, possui mais fluência e é mais imediata que a escrita, que exige um processo mais cuidadoso de construção que visa à clareza de sentido. 

Para exemplificar, o professor pode pedir a algum aluno que conte rapidamente uma história sobrenatural que tenha escutado (a lenda do lobisomem, por exemplo) e, ao mesmo tempo, transcrever na lousa a fala desse aluno, destacando que estão sendo reproduzidos, tais quais foram produzidos, os traços de oralidade, como repetições, hesitações e auto-correções de fala. Ao final, o professor pode reescrever esse trecho na forma considerada recomendável. 

 

Atividade 6 – Treinando a leitura

Após a produção escrita da aula anterior, propomos uma “quebra” na seqüência. Entram em cena outros gêneros. O professor pode selecionar trechos de notícias, piadas, poemas, receitas, artigos, e distribuí-los aleatoriamente aos alunos. Em um recipiente (caixa ou saco plástico), seriam colocados papéis contendo “estados de espírito” (preferencialmente relacionados às emoções reincidentes em contos de terror: apreensivo, triste, amedrontado, perturbado, nervoso, deprimido, assustado, aterrorizado, etc).

O docente explica aos alunos que eles lerão os trechos em voz alta de acordo com o “estado de espírito” sorteado. Essa atividade pode tornar-se divertida na medida em que uma receita, por exemplo, pode ser lida como se fosse uma história de terror, causando, no mínimo, um estranhamento necessário para despertar o interesse por diferentes formas de leitura.

Essa atividade ajuda a perceber o quanto é importante uma leitura atenta, baseada na descrição fornecida pelo autor, e também que cada gênero textual solicita uma leitura diferente. O texto que toca em assuntos sobrenaturais, por exemplo, deve ser lido de acordo com estados de espírito próximos a esse, com as tensões, pausas e modulações de voz que dão o caráter sombrio necessário à leitura. O fundamental dessa atividade é que o aluno perceba que quem dá essa atmosfera sombria é, além do autor, com a descrição dos acontecimentos, o próprio leitor, ao realizar a leitura dentro das exigências do gênero.

 

Módulo III

Atividade 7 – Aspectos descritivos

O professor pede aos alunos que façam, oralmente, a descrição de imagens (em cartões ou fichas em cartolina) de espaços e personagens relacionados ao contexto das histórias de terror (ambientes sombrios, casas abandonadas, pessoas soturnas), a fim de que percebam o quanto é relevante a presença desses elementos. A seguir, sugerimos o retorno à leitura do conto trabalhado, buscando que os alunos identifiquem nele possíveis descrições semelhantes às comentadas. Uma pergunta-chave pode conduzir essa atividade: Você acha que a descrição é importante neste conto? Por quê?

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Atividade 8 – Contextualizando o conto

Como o objetivo deste trabalho é que os alunos, além de lidarem com a oralidade, a escrita e a leitura, também conheçam o gênero conto de terror, nesta aula apresentaremos um novo conto para leitura: Ligéia, também de Edgar Allan Poe. A partir dele, propomos uma atividade voltada às figuras de linguagem. Partindo do princípio de que os contos de terror as contém (hipérbole, metáfora, sinestesia, etc.), é pertinente uma exposição sobre elas aliada ao trabalho com o texto, visando à percepção exata dos efeitos que trazem ao gênero.

Nas citações a seguir, fizemos o levantamento de dois trechos dos contos trabalhados. O primeiro é de Ligéia, cuja citação remete à metáfora utilizada pelo narrador para comparar a personagem principal ao “esplendor de um sonho de ópio, uma visão aérea e encantadora”:

“Em beleza de rosto, nenhuma mulher jamais se igualou. Era o esplendor de um sonho de ópio, uma visão aérea e encantadora, mais estranhamente divina que as fantasias que flutuam nas almas dormentes das filhas de Delos”. (POE, 1954, p.74)

Em A queda da casa de Usher há, já no primeiro parágrafo, um exemplo claro de sinestesia, quando o narrador se refere a “um dia pesado, escuro e mudo de outono”.

 

Atividade 9 – O retorno às produções dos alunos

Neste momento, os alunos já tiveram contato com elementos importantes dentro dos contos de terror, como descrição, figuras de linguagem e estados de espíritos, que dão a eles sua “fisionomia” peculiar. Portanto, chega a hora de retomar as produções realizadas na Atividade V, para que, em princípio, sejam feitas as correções levantadas pelo professor referentes a problemas textuais encontrados, como coesão, coerência e ortografia.  

Nossa sugestão é que essa correção seja realizada coletivamente, por meio de uma transparência ou da transcrição do trecho problemático na lousa. Todos os alunos terão a oportunidade de retrabalhar a escrita, adequando-a à norma culta padrão “exigida” para os textos escritos.

 

Módulo IV

Atividade 10 – Aprimorando a escrita

Nesta etapa, os alunos já realizaram atividades diversificadas que lhes permitiram refletir a respeito das características próprias dos contos de terror. Nesta aula, eles farão a releitura e a reescrita de seus próprios textos, tendo em vista enriquecê-los a partir desse novo repertório. Seria proveitoso que sentassem em duplas e, antes das alterações finais, trocassem os textos, possibilitando um intercâmbio de sugestões. Sugerimos que o professor circule pela classe dando atendimento individual a quem necessitar de ajuda.

 

Atividade 11 – Adequação de leitura: contar expressivamente

Divididos, agora, em grupos de quatro alunos, cada um deverá ler seu texto para os colegas. O grupo escolherá o melhor entre eles. Deverá ser decidido, ainda, quem lerá para a sala o texto escolhido e, tendo sido feita a escolha, deverão ser sugeridas estratégias para a leitura, como, por exemplo, a adequação do tom de voz a um determinado trecho da história, representando ansiedade, medo, susto, etc. Essa atividade coletiva retoma o trabalho de desenvolvimento da habilidade de contar uma história.

 

Atividade 12 – Preparativos finais

A aula que antecede o sarau será dedicada à escolha dos melhores contos. Cada aluno selecionado pelos grupos deverá realizar sua apresentação. A classe decidirá quais contos farão parte do blog e quais serão apresentados no sarau. Nesta aula também serão combinados os detalhes de ambientação do sarau que, além dos contos, poderá conter leituras dramáticas de poesias ou apresentações musicais. Como tarefa, os alunos poderão delegar os trabalhos de digitação dos contos e de preparação dos cartazes de divulgação.

 

Atividade 13

A última atividade é a realização do sarau. Em seu decorrer, poderá ser feita a divulgação do blog com a coletânea de histórias.

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Os alunos serão avaliados a partir de suas produções finais (o que deve ficar claro logo na apresentação do projeto). Pretende-se que a avaliação seja contínua, isto é, aula a aula.

Como procuramos explorar os vários aspectos componentes do conto, cada produção feita pelos alunos (depois da apresentação dos temas) pode ser avaliada:

- Produção Oral (contar e ler uma história em voz alta) – o aluno conseguiu aprender as técnicas para contar uma história: criar o clima que o gênero cobra e prender a atenção do público?

- Produção escrita (escrever um conto) – o aluno utiliza as técnicas de construção de um conto fantástico (cenários com descrições características, hesitação, ambigüidade) que foram comentadas em sala de aula? 

É importante que a avaliação seja feita juntamente com os alunos, justificada, ponto a ponto, para que eles possam ver quais as expectativas que foram atingidas e quais as que não foram. Se todos os critérios forem devidamente expostos ao longo das aulas, o aluno se sentirá seguro ao ser avaliado. Além da avaliação do professor, deverá ser levada em conta a da sala (o público para o qual os contos – orais e escritos – foram produzidos).

 

Referências bibliográficas

CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: _________. Vários escritos. São Paulo: Duas cidades, 1995. p. 235-263.

CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In: ________. Valise de Cronópio. São Paulo: Perspectiva, 1974.

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: _______. Exprimir-se em francês. Edições de Boeck, 2001.

HERNÁNDEZ, Fernando. Os projetos de trabalho e a necessidade de mudança na educação e na função da escola. In: _________. Transgressão e mudança na educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática ensinar na escola: norma e uso na Língua Portuguesa. São Paulo: Contexto, 2003.

PENNAC, Daniel. Como um romance. São Paulo: Rocco, 1995.

POE, Edgar Allan. A queda da casa de Usher. In: ________. Histórias Extraordinárias (tradução e adaptação de Clarice Lispector). São Paulo: Ediouro, 2005.

POE, Edgar Allan. Ligéia. In: Antologia de contos de Edgar Allan Poe. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1959.

TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 1975.

________________. A narrativa fantástica. In: ________. Estruturas Narrativas. São Paulo: Perspectiva, 1985.

 

* Sugerimos, para criação de blogs, o site http://www.blogger.com; já para a obtenção de variadas imagens relacionadas ao universo do terror, nossa dica é a boa e velha área de pesquisa do Google: http://images.google.com.br.

 

* Este projeto contém arquivos anexos para download. Eles estão disponíveis logo abaixo, em "Baixar anexos".

   

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5 comentários

  • Link do comentário Carmem Leandro Domingo, 01 Setembro 2013 15:17 postado por Carmem Leandro

    adoro Alan Poe e gosto muito de trabalhar seus contos.

  • Link do comentário daniel Terça, 26 Fevereiro 2013 12:22 postado por daniel

    e a coisa mais daora do mundo

  • Link do comentário Nô Terça, 28 Agosto 2012 23:43 postado por

    preciso saber sobre introdução de portugal e espanha e do Brasil deles e a Conclusao e a Mote???Ajude-me PLz

  • Link do comentário Beatriz Sábado, 18 Fevereiro 2012 18:11 postado por Beatriz

    Como se deve terminar uma história de terror?? Preciso desenvolver uma narrativa de terror para produção de texto do meu colégio, mas não sei como terminá-la!

  • Link do comentário helenacdesouza Quarta, 08 Junho 2011 21:48 postado por helenacdesouza

    eu adoro historias de terror mais nao posso asistir se nao eu durmu e começo a gritar e nao concico dormir xau 1000 beijuuuuus

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