Terça, 30 Novembro 1999 00:00

Número 7 - Apresentação

Escrito por  Sandoval Nonato Gomes-Santos
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O texto em projetos de ensino de Língua Portuguesa: narração, argumentação e multissemiose

 

Prefácio

  

Os artigos compilados neste Volume 7 de nossa Revista de Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa (MELP) foram produzidos por graduandos concluintes do Curso de Licenciatura em Letras da Universidade de São Paulo (USP) por ocasião do Curso de Metodologia do Ensino de Português II (EDM 0406), ofertado no segundo semestre do ano acadêmico na Faculdade de Educação da USP, com carga horária de 120 horas[1].

Complementar ao Volume anterior, voltado a descrições e análises do trabalho do professor de Português geradas com base em estágio de observação, este Volume atem-se à abordagem de outra dimensão da experiência da prática de estágio do graduando: a regência da aula de português no processo de implementação de um projeto de ensino.

O programa do Curso de Metodologia II em que foram produzidos os artigos articula um conjunto de atividades de formação que aloca a prática de ensino e a reflexão sobre ela no coração do processo de aprendizagem do ofício de professor pelo licenciando, qualificando sua inserção no estágio. Entre essas atividades, destacam-se:  

 

  • Discussões coletivas sobre o texto como unidade de ensino da língua portuguesa e sobre os componentes do trabalho de ensino, tanto no que se refere ao eixo do saber (objetos de ensino e objetos ensinados), quanto do método (instrumentos e gestos didáticos), com base em aportes teóricos do campo dos estudos do texto (BENTES; QUADROS 2010)[2] e do campo da didática de línguas (SCHNEUWLY; DOLZ 2009)[3];
  • Discussões e registro em cadernos de notas do processo de elaboração, em grupo, do projeto de ensino a ser implementado no estágio;
  • Microaulas, em grupo, visando a simular a situação didática com as quais os graduandos se confrontariam por ocasião da implementação do projeto de ensino, no estágio de regência;
  • Elaboração individual de artigo acadêmico sobre o estágio realizado.


A produção dos artigos deu-se progressivamente ao longo do Curso e consistiu em três grandes tarefas:

 

i) contextualização do espaço escolar (em seus aspectos institucionais e físicos) e descrição do trabalho de ensino de língua portuguesa da série (ou do ano) acompanhada;

ii) apresentação das motivações para a elaboração do projeto de ensino proposto, de justificativa das opções feitas, e descrição de seus componentes e dos passos previstos para sua implementação;

iii) avaliação do projeto de ensino implementado e reflexão sobre uma questão específica de seu processo de implementação.


No presente Volume, os artigos encontram-se distribuídos em três agrupamentos, conforme a natureza dos textos e das habilidades discursivas implicados nos projetos de ensino. O primeiro conjunto volta-se para projetos centrados em textos narrativos, elaborados e implementados por Bruno César M. Rodrigues (“Um conto conta duas histórias” e o “efeito nocaute”: leitura e escrita de contos por alunos do Ensino Médio), Eli Pessoa do Nascimento (A apropriação do discurso da prosa de denúncia e dos principais elementos da narrativa: enredo, narrador, personagem, espaço e tempo por alunos do 3º ano do Ensino Médio), Gabriela Oliveira (O conto Chapeuzinho Vermelho e suas revisitações: Reflexões acerca de suas estruturas fundamentais) e Nathália Rodrighero Salinas Polachini (Narrativas no gênero Canção Popular para alunos do 6º ano do Ensino Fundamental).

O segundo conjunto de artigos agrega projetos centrados em textos argumentativos, de autoria de Amadeu Rodrigues Lauton (O ensino da escrita argumentativa na perspectiva discursiva bakhtiniana: o aluno como sujeito de sua escrita), Caroline Seixas (Leitura e argumentação: aplicação de uma sequência didática), João Henrique Lara Ganança (Exercitando a argumentação: O texto de opinião em uma turma de 1º ano do Ensino Médio) e Manuella Miki Souza Araújo (Problemas na abordagem do gênero Texto de Opinião: Uma experiência em sala de aula).

O terceiro e último conjunto agrupa projetos centrados de modo especial em textos que conjugam a linguagem com outros registros semióticos, de que são autores Beatriz Brito Carneiro (Enquadrando o Saber: a literatura nas páginas das HQs), Heloisa Gonçalves Jordão (O trabalho com regras de jogos e brincadeiras em classes de alfabetização – ler, aprender, brincar) e Solange Galvão (Uma abordagem temática sobre os gêneros textuais na EJA: Comparação entre poema, reportagem e charge).

Em seu conjunto, esta coletânea de artigos permite dar visibilidade a, pelo menos, dois pressupostos da reflexão sobre a formação docente ensejada pela academia brasileira (GOMES-SANTOS; SEIXAS 2012[4]). O primeiro diz respeito à indissociabilidade entre formação e trabalho, e a posição central desse último em qualquer investimento de formação. Nessa direção, formar o professor é, em grande medida, ensiná-lo a conceber, implementar e avaliar projetos de ensino, recurso que dá forma ao, e permite as condições de possibilidade do trabalho docente.

O segundo pressuposto diz respeito à pertinência da inserção contínua e protagonista do futuro professor em práticas de recepção e produção de textos da formação e do ofício profissional, entre as quais: anotar para planejar, simular para implementar, implementar para avaliar. Não nos esqueçamos de que se trata de práticas de letramento, o que nos leva a supor que formar é também letrar o professor, pressuposto especialmente pertinente em se tratando do professor de português, antes de tudo,
poder-se-ia considerar, um profissional do texto.

Boa leitura!

 

Sandoval Nonato Gomes-Santos

São Paulo, Butantã, USP, Faculdade de Educação,

Novembro de 2013, quase verão.

 

 

Sandoval Nonato Gomes-Santos

Professor do Departamento de Metodologia de Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP, 2008). Doutorado em Linguística (Universidade Estadual de Campinas, 2004). Estágio pós-doutoral em Didática de Línguas (Universidade de Genebra, 2006). Estágio doutoral em Teoria do Discurso (Universidade de Paris 12, 2002). Membro do GT Linguística Textual e Análise da Conversação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL). Coordenador da Área Temática Linguagem e Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação (PG-FEUSP). Coordenador do Grupo de Pesquisa Linguagem na Prática Escolar (LIPRE, FEUSP). Autor de A exposição oral nos anos iniciais do Ensino Fundamental (Cortez Editora, 2012) e Recontando histórias na escola (Martins Fontes, 2003). Experiência em Linguística Textual, Linguística Aplicada e Metodologia de Ensino de Língua. Atuação nos seguintes temas: práticas de produção e recepção de gêneros textuais na escola e trabalho docente.



[1] Do total de 120 horas, 60 horas correspondem a aulas na Universidade e outras 60 horas a estágio realizado pelos graduandos em escolas de Educação Básica.

[2] BENTES, A. C.; LEITE, M. Q. (Orgs.). Linguística de texto e análise da conversação: panorama das pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez Editora, 2010.

[3] SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. (Orgs.). Des objets enseignés en classe de français – Le travail de l’enseignant sur la rédaction de texts argumentatifs et sur la subordonnée relative. Rennes, FR: Presses Universitaires de Rennes, 2009.

[4] GOMES-SANTOS, S. N.; SEIXAS, C. Gêneros textuais da formação docente inicial: o projeto de ensino de língua portuguesa. Scripta (PUCMG), v. 16, p. 151-168, 2012.


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